
No Brasil e no mundo cresce o cultivo de plantas transgênicas, aquelas que tiveram genes introduzidos por engenharia genética. Em teoria, o uso destas plantas é aprovado após analisadas mudanças nas substâncias que elas produzem. A intenção é saber se estas podem causar mal àqueles que a consomem. Porém, um novo trabalho que mostra a transferência genética entre espécies de planta traz uma nova crítica. Nós não sabemos onde o gene introduzido vai parar.
Plantas transgênicas são todas aquelas que tiveram material genético não pertecente à sua espécie introduzidos ao seu DNA. Este novo material genético geralmente contém um ou mais genes que melhoram a sua produtividade. Este gene pode aumentar um hormônio vegetal que está envolvido no acúmulo de nutrientes, por exemplo, e os tomates ficarem mais gordinhos. Mas a maioria das linhagens cultivadas hoje em dia receberam genes envolvidos com a resistência ao uso de herbicidas. Assim, os fazendeiros podem utilizar mais destas drogas sem matar as plantas que eles querem produzir. Mas quando pensamos nos genes dentro de um organismo, como nós, geralmente pensamos que estes são propriedade dele náo é? Nós não pensamos que nossos genes vão sair passeando por ai.
Só que não é bem assim. Quando comemos um alface, os genes daquele alface vão parar também no nosso intestino. E se de alguma maneira os genes do alface entrarem em uma célula do seu intestino? Na relação com microrganismos e vírus a coisa fica ainda mais promíscua. Estes vivem entrando em células por ai e com certeza trocam muito material genético nestes processos. Mas o que Yoshida e colaboradores mostraram num artigo publicado esta semana na Science foi que plantas trocam genes entre si. Assim, nós não podemos garantir que os genes introduzidos por nós em cultivos não vão parar em espécies da natureza. Esses caras estudaram uma planta parasita, S. hermonthica, que ataca algumas plantas cultivadas, como o arroz (olha lá em cima a planta roxa atacando uma plantação de milho). Daí eles procuraram por sequências genéticas típicas do grupo ao qual esses cultivares pertencem (mas não S. Hermonthica), as monocotiledôneas. E foi batata. Opa, bem, não exatamente batata. Eles encontraram um gene de monocotiledônea na S. Hermonthica, que é uma dicotiledônea.
Agora imaginem se uma planta parasita dessa rouba justamente o gene de resistência a herbicidas. Vai virar um super parasita que não morre com herbicida. É primordial agora saber o quanto essas transferências são frequentes.
A liberação do cultivo de transgêncios no Brasil é centralizada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, CTNBio. Ao meu ver, esta aprovação deveria ser melhor discutida com outras entidades, como o IBAMA, a EMBRAPA e a comunidade acadêmica. A lei de biossegurança contém também a regulação sobre o uso de células tronco. Uma bizarrice. O uso de transgênicos em cultivos vegetais merece uma discussão separada. A falta de discussão sobre assuntos de tal importância sempre gera erros em tomadas de decisão. O cultivo de soja no Brasil, por exemplo, tem a caracetrística de ser feito muito próximo a grandes áreas protegidas (que muitas vezes são até derrubadas pra dar lugar ao cultivo). Qual será o impacto da troca de genes entre a soja transgênica e espécies nativas? Até agora ninguém sabe.